sábado, 20 de dezembro de 2014

Fora da igreja há salvação?



LIMA, Ezequias Bezerra. Fora da igreja há salvação? Recife: Pax Publicações, 2014, 124 p.

O movimento evangélico brasileiro ao longo dos anos vem sofrendo profundas e significativas modificações. Passamos do tradicionalismo para o pentecostalismo, deste para o neopentecostalismo e, mais recentemente, estamos vendo uma boa parcela de crentes abandonarem à igreja institucional na direção de um Cristianismo sem igreja.

O Dr. Ezequias Bezerra, um pastor e teólogo pernambucano, líder da Igreja Missionária Canaã e presidente do Grupo Maranata de Comunicação, na obra “Fora da igreja há salvação?”, se propõe a apresentar uma interessante reflexão sobre essa nova atmosfera vivida pela igreja brasileira.

A obra está dividida em nove capítulos e, segundo o autor, é fruto de uma mensagem pregada na igreja que pastoreia e tem como objetivo ajudar o leitor em sua caminhada de fé até o céu.

No primeiro capítulo, o autor procura apresentar uma definição de igreja. Fugindo da concepção popular de que, por exemplo, “uma igreja é um lugar onde tem música, orações e um líder religioso falando acerca de Deus utilizando a Bíblia ou suas tradições” (p. 17), o Dr. Ezequias procura conceituar a igreja utilizando imagens bíblicas: “A igreja é o corpo de Cristo, é a sua noiva, é o seu povo, é a sua família, é a sua casa”, (p. 19). É uma comunidade “formada por pessoas salvas em Cristo Jesus” (p.21) e que se reuni em um determinado lugar para cultuar ao Senhor.

Nesse sentido, a igreja pode ser compreendida como uma comunidade visível-invisível, pois, como destaca o autor, não existe uma dimensão sem a outra. Contudo, é a dimensão invisível que determina a visibilidade da igreja.

Dando sequência ao curso de sua argumentação, o Dr. Ezequias Bezerra, no segundo capítulo, desenvolve o seguinte tema: a origem da igreja. Como deixa claro, a igreja tem origem em Cristo Jesus, a pedra de esquina, o fundamento para os apóstolos e profetas. Essa igreja fundada por Cristo, contudo, não tem uma dimensão mística apenas. Ou seja, a igreja não é apenas invisível aos olhos do mundo, mas, como se depreende das Escrituras Sagradas, é também visível.

Desse modo, segundo o autor, a igreja precisa de uma estrutura formal para o desenvolvimento de sua missão; de um local para culto, de líderes para orientar e disciplinar a comunidade e da companhia fraterna dos discípulos de Cristo para que mantenha uma vida saudável.

No terceiro capítulo, Ezequias Bezerra apresenta, com mais detalhes, os símbolos que a Bíblia emprega para representar a igreja. São eles: “Edifício, morada de Deus, assembléia dos santos, reunião de salvos, comunidade de fé, família de Deus, corpo de Cristo, cidade de Deus, lavoura, candelabro, rebanho, comunidade dos santos, Cristãos = réplicas de Cristo, Templo de Deus, noiva do cordeiro e outros mais” (p. 44).

A intenção do autor nessa parte de seu trabalho é demonstrar o caráter comunitário e visível da igreja, bem como a relação que esses símbolos tem com o próprio Cristo.

No próximo capítulo, o Dr Ezequias observa que a igreja é propriedade de Deus. Ou seja, a igreja é o povo que Deus elegeu para si antes da fundação do mundo. Todavia, como destaca o autor, no mundo a igreja manifesta a glória do próprio Deus. Desse modo, o Dr. Ezequias compreende que a igreja tem uma dimensão visível no mundo – o que, infelizmente, “querem” negar os desigrejados -  e que lutar contra essa estrutura é declarar guerra contra o dono da igreja.

O Dr. Ezequias Bezerra, no quinto capítulo, procura responder as seguintes questões: Como se entra na igreja? Como se torna povo de Deus? Embora pareca fazer uma pequena confusão entre regeneração e santificação, o autor, sem rodeios, aponta que a porta de entrada para a igreja é a conversão, ou seja, “uma mudança de mente, uma renovação do pensar, do crer, do agir, do ser” (p. 69), evidenciada por uma série de frutos (p. 71).

No sexto capítulo, a grande questão colocada pelo autor é a seguinte: Precisamos da igreja? Nesse ponto, o Dr. Ezequias Bezerra destaca a importância da igreja institucional, apesar de seus problemas, para a vida cristã, pois, como observa, é a partir da igreja que Deus pastoreia o seu rebanho, desenvolve a sua missão e revela a sua vontade.

Nesse capítulo, Ezequias Bezerra ainda nos leva a entender que as críticas dirigidas à igreja de Crista, não poucas às vezes, carecem de fundamento mais sólido. Isso porque, aquilo que é o objeto da crítica dos desigrejados, de modo geral, não merece o nome de igreja.

Recorrendo a vários textos bíblicos, no sétimo capítulo, o Dr. Ezequias procura demonstrar que a verdadeira igreja é uma comunidade de discípulos que demonstram sua fidelidade a Jesus à medida que amam uns aos outros. De modo prático, esse amor é materialidade por meio do serviço mútuo.

No penúltimo capítulo, Ezequias Bezerra observa que, diferente do que muitos pensam, a igreja não é um lugar de pessoas perfeitas, mas um lugar de pessoas em transformação. Aqueles que desprezam essa característica fundamental da igreja, segundo o autor, acabam se frustrando e, finalmente, abandonado a igreja. O remédio contra essa postura tão comum em nossos dias, na visão de Ezequias Bezerra, está na correta expectativa sobre a igreja, isto é, no entendimento de que a igreja é uma comunidade de pessoas imperfeitas que caminham para a maturidade e que fora da igreja, a semelhança de uma brasa fora do braseiro, a vida cristã tende, invariavelmente, a perder a sua vitalidade.

No último capítulo, a partir da ideia de que a relação entre Deus e o seu povo é uma relação de amor, da imagem bíblica de que a igreja é a noiva de Cristo e que vivi com este uma relação monossomática, o Dr. Ezequias Bezerra conclui a sua obra declarando que fora de Jesus não há salvação, mas, “como Jesus e a igreja são um” (p. 123), logo, fora da igreja também não há salvação.

O livro ainda conta com o apêndice “Não fale sem antes conhecer” e “Deus é organizado”, uma introdução a obra “Não atire pedras... Conhecendo a Igreja por dentro”, que dá sequência aos estudos eclesiológicos do Dr. Ezequias Bezerra.

“Fora da igreja há salvação?” é um material extremamente importante para todo aquele que deseja conhecer mais, a partir de uma cosmovisão bíblica, sobre a relação entre a eclesiologia e a soteriologia. É bem verdade que a obra carece de um melhor embasamento histórico sobre essa relação, principalmente, quanto à origem, natureza e posicionamentos do movimento desigrejado. É preciso, todavia, observar que isso não esvazia o valor da obra, apenas a tornaria mais rica.

Do ponto de vista estrutural, agora sim, a obra apresenta muitos problemas. As orações deveriam ser melhor coordenadas e subordinadas; a ortografia deveria ter passado por um processo de revisão e a coesão de ideias deveria ter sido mais bem trabalhada. A despeito desses problemas, como destacado anteriormente, a obra tem a sua importância e destina-se a todos que desejam compreender um pouco mais a relação entre a igreja e a salvação em Cristo Jesus.        


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Autor: Hebert Leonardo Borges de Souza, ministro batista, bacharel em teologia pelo Seminário Teológico Batista Nacional de Pernambuco e licenciado em física pela Universidade Federal Rural de Pernambuco. 

Um comentário:

  1. Boa Noite pessoal. Esse blog é bacana. Gostaria de indicar para vcs os seguintes blogs: www.blogrenovados.blogspot.com e www.setebanpe.blogspot.com

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