LIMA, Ezequias Bezerra. Fora da
igreja há salvação? Recife: Pax Publicações, 2014, 124 p.
O
movimento evangélico brasileiro ao longo dos anos vem sofrendo profundas e
significativas modificações. Passamos do tradicionalismo para o
pentecostalismo, deste para o neopentecostalismo e, mais recentemente, estamos
vendo uma boa parcela de crentes abandonarem à igreja institucional na direção
de um Cristianismo sem igreja.
O
Dr. Ezequias Bezerra, um pastor e teólogo pernambucano, líder da Igreja Missionária
Canaã e presidente do Grupo Maranata de Comunicação, na obra “Fora da igreja há salvação?”, se propõe
a apresentar uma interessante reflexão sobre essa nova atmosfera vivida pela
igreja brasileira.
A
obra está dividida em nove capítulos e, segundo o autor, é fruto de uma
mensagem pregada na igreja que pastoreia e tem como objetivo ajudar o leitor em
sua caminhada de fé até o céu.
No
primeiro capítulo, o autor procura apresentar uma definição de igreja. Fugindo da
concepção popular de que, por exemplo, “uma igreja é um lugar onde tem música,
orações e um líder religioso falando acerca de Deus utilizando a Bíblia ou suas
tradições” (p. 17), o Dr. Ezequias procura conceituar a igreja utilizando
imagens bíblicas: “A igreja é o corpo de Cristo, é a sua noiva, é o seu povo, é
a sua família, é a sua casa”, (p. 19). É uma comunidade “formada por pessoas
salvas em Cristo Jesus” (p.21) e que se reuni em um determinado lugar para cultuar
ao Senhor.
Nesse
sentido, a igreja pode ser compreendida como uma comunidade visível-invisível,
pois, como destaca o autor, não existe uma dimensão sem a outra. Contudo, é a
dimensão invisível que determina a visibilidade da igreja.
Dando
sequência ao curso de sua argumentação, o Dr. Ezequias Bezerra, no segundo capítulo,
desenvolve o seguinte tema: a origem da igreja. Como deixa claro, a igreja tem
origem em Cristo Jesus, a pedra de esquina, o fundamento para os apóstolos e
profetas. Essa igreja fundada por Cristo, contudo, não tem uma dimensão mística
apenas. Ou seja, a igreja não é apenas invisível aos olhos do mundo, mas, como
se depreende das Escrituras Sagradas, é também visível.
Desse
modo, segundo o autor, a igreja precisa de uma estrutura formal para o
desenvolvimento de sua missão; de um local para culto, de líderes para orientar
e disciplinar a comunidade e da companhia fraterna dos discípulos de Cristo
para que mantenha uma vida saudável.
No
terceiro capítulo, Ezequias Bezerra apresenta, com mais detalhes, os símbolos que
a Bíblia emprega para representar a igreja. São eles: “Edifício, morada de
Deus, assembléia dos santos, reunião de salvos, comunidade de fé, família de
Deus, corpo de Cristo, cidade de Deus, lavoura, candelabro, rebanho, comunidade
dos santos, Cristãos = réplicas de Cristo, Templo de Deus, noiva do cordeiro e
outros mais” (p. 44).
A
intenção do autor nessa parte de seu trabalho é demonstrar o caráter
comunitário e visível da igreja, bem como a relação que esses símbolos tem com
o próprio Cristo.
No
próximo capítulo, o Dr Ezequias observa que a igreja é propriedade de Deus. Ou
seja, a igreja é o povo que Deus elegeu para si antes da fundação do mundo. Todavia,
como destaca o autor, no mundo a igreja manifesta a glória do próprio Deus.
Desse modo, o Dr. Ezequias compreende que a igreja tem uma dimensão visível no
mundo – o que, infelizmente, “querem” negar os desigrejados - e que lutar contra essa estrutura é declarar
guerra contra o dono da igreja.
O
Dr. Ezequias Bezerra, no quinto capítulo, procura responder as seguintes
questões: Como se entra na igreja? Como se torna povo de Deus? Embora pareca
fazer uma pequena confusão entre regeneração e santificação, o autor, sem
rodeios, aponta que a porta de entrada para a igreja é a conversão, ou seja,
“uma mudança de mente, uma renovação do pensar, do crer, do agir, do ser” (p.
69), evidenciada por uma série de frutos (p. 71).
No
sexto capítulo, a grande questão colocada pelo autor é a seguinte: Precisamos
da igreja? Nesse ponto, o Dr. Ezequias Bezerra destaca a importância da igreja
institucional, apesar de seus problemas, para a vida cristã, pois, como
observa, é a partir da igreja que Deus pastoreia o seu rebanho, desenvolve a
sua missão e revela a sua vontade.
Nesse
capítulo, Ezequias Bezerra ainda nos leva a entender que as críticas dirigidas
à igreja de Crista, não poucas às vezes, carecem de fundamento mais sólido.
Isso porque, aquilo que é o objeto da crítica dos desigrejados, de modo geral,
não merece o nome de igreja.
Recorrendo
a vários textos bíblicos, no sétimo capítulo, o Dr. Ezequias procura demonstrar
que a verdadeira igreja é uma comunidade de discípulos que demonstram sua
fidelidade a Jesus à medida que amam uns aos outros. De modo prático, esse amor
é materialidade por meio do serviço mútuo.
No
penúltimo capítulo, Ezequias Bezerra observa que, diferente do que muitos
pensam, a igreja não é um lugar de pessoas perfeitas, mas um lugar de pessoas
em transformação. Aqueles que desprezam essa característica fundamental da
igreja, segundo o autor, acabam se frustrando e, finalmente, abandonado a
igreja. O remédio contra essa postura tão comum em nossos dias, na visão de Ezequias
Bezerra, está na correta expectativa sobre a igreja, isto é, no entendimento de
que a igreja é uma comunidade de pessoas imperfeitas que caminham para a
maturidade e que fora da igreja, a semelhança de uma brasa fora do braseiro, a
vida cristã tende, invariavelmente, a perder a sua vitalidade.
No
último capítulo, a partir da ideia de que a relação entre Deus e o seu povo é uma
relação de amor, da imagem bíblica de que a igreja é a noiva de Cristo e que
vivi com este uma relação monossomática, o Dr. Ezequias Bezerra conclui a sua
obra declarando que fora de Jesus não há salvação, mas, “como Jesus e a igreja
são um” (p. 123), logo, fora da igreja também não há salvação.
O
livro ainda conta com o apêndice “Não fale sem antes conhecer” e “Deus é
organizado”, uma introdução a obra “Não atire pedras... Conhecendo a Igreja por
dentro”, que dá sequência aos estudos eclesiológicos do Dr. Ezequias Bezerra.
“Fora
da igreja há salvação?” é um material extremamente importante para todo aquele
que deseja conhecer mais, a partir de uma cosmovisão bíblica, sobre a relação
entre a eclesiologia e a soteriologia. É bem verdade que a obra carece de um
melhor embasamento histórico sobre essa relação, principalmente, quanto à
origem, natureza e posicionamentos do movimento desigrejado. É preciso, todavia,
observar que isso não esvazia o valor da obra, apenas a tornaria mais rica.
Do
ponto de vista estrutural, agora sim, a obra apresenta muitos problemas. As
orações deveriam ser melhor coordenadas e subordinadas; a ortografia deveria ter
passado por um processo de revisão e a coesão de ideias deveria ter sido mais
bem trabalhada. A despeito desses problemas, como destacado anteriormente, a
obra tem a sua importância e destina-se a todos que desejam compreender um
pouco mais a relação entre a igreja e a salvação em Cristo Jesus.
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Autor: Hebert Leonardo Borges de Souza, ministro batista, bacharel em teologia pelo Seminário Teológico Batista Nacional de Pernambuco e licenciado em física pela Universidade Federal Rural de Pernambuco.